sábado, outubro 31, 2015

O porteiro do prostíbulo

Não havia no povoado pior ofício do que porteiro do prostíbulo (bordel). Mas que outra coisa poderia fazer aquele homem? O facto é que nunca tinha aprendido a ler nem escrever, não tinha nenhuma outra atividade ou ofício.
Um dia, entrou como gerente do prostíbulo um jovem cheio de ideias, criativo e empreendedor, que decidiu modernizar o estabelecimento. Fez mudanças e chamou os funcionários para as novas instruções.
Ao porteiro disse: - A partir de hoje, o Senhor, além de ficar na portaria, vai preparar um relatório semanal onde registrará a quantidade de pessoas que entram e os seus comentários e reclamações sobre os serviços.
- Eu adoraria fazer isso, Senhor - balbuciou - mas eu não sei ler nem escrever!
- Ah! Então sinto muito, mas se é assim, já não poderá continuar a trabalhar.
- Mas Senhor, não me pode despedir, eu trabalhei nisto a toda a minha vida, não sei fazer outra coisa.
- Olhe, compreendo, mas não posso fazer nada pelo Senhor. Vamos dar-lhe uma boa indenização e espero que encontre algo que fazer. Eu sinto muito e que tenha sorte.
Sem mais nem menos, deu meia volta e foi-se embora. O porteiro sentiu-se como se o mundo desmoronasse. E o que fazer agora? Lembrou-se que no prostíbulo, quando se quebrava alguma cadeira ou mesa, ele arranjava-a, com cuidado e carinho.
Pensou que essa poderia ser uma boa ocupação até conseguir um emprego. Mas só tinha alguns pregos enferrujados e um alicate mal conservado. Usaria o dinheiro da indenização para comprar uma caixa de ferramentas completa. Como o povoado não tinha casa de ferragens, tinha de viajar dois dias numa mula para ir ao povoado mais próximo para realizar a compra.
E assim o fez. No seu regresso, um vizinho bateu à sua porta:
- Venho perguntar se tem um martelo para me emprestar.
- Sim, acabei de comprá-lo, mas eu preciso dele para trabalhar... já que...
- Bom, mas eu o devolverei amanhã bem cedo.
- Se é assim, está bem.
Na manhã seguinte, como tinha prometido, o vizinho bateu à porta e disse:
- Olha, eu ainda preciso do martelo. Porque não me o vende?
- Não, eu preciso dele para trabalhar e além do mais, a casa de ferragens mais próxima está a dois dias de viagem de mula.
- Façamos um acordo - disse o vizinho. Eu pagarei os dias de ida e volta mais o preço do martelo, já que está sem trabalho de momento. Que lhe parece?
Realmente, isto lhe daria trabalho por mais dois dias...aceitou. Voltou a montar na sua mula e viajou. No seu regresso, outro vizinho esperava-o na porta de sua casa.
- Olá, vizinho. Você vendeu um martelo ao nosso amigo. Eu necessito de algumas ferramentas, estou disposto a pagar-lhe os seus dias de viagem, mais um pequeno lucro para que as compre para mim, pois não tenho tempo para viajar e fazer compras. Que lhe parece?
O ex-porteiro abriu a sua caixa de ferramentas e o seu vizinho escolheu um alicate, uma chave de fenda, um martelo e uma talhadeira. Pagou e foi-se embora. E o nosso amigo guardou as palavras que escutara: “não tenho tempo para viajar e fazer compras”.
Se isto fosse certo, muita gente poderia necessitar que ele viajasse para trazer as ferramentas. Na viagem seguinte, arriscou um pouco mais de dinheiro trazendo mais ferramentas do que as que tinha vendido.
De facto, poderia economizar algum tempo em viagens. A notícia começou a espalhar-se pelo povoado e muitos, querendo economizar a viagem, faziam encomendas. Agora, como vendedor de ferramentas, uma vez por semana viajava e trazia o que precisavam os seus clientes. Com o tempo, alugou uma pequena loja para expor as ferramentas e alguns meses depois, comprou uma vitrine e um balcão e transformou a pequena loja, na primeira loja de ferragens do povoado.
Estavam todos contentes e ferramentas compravam-nas a ele. E agora, já não viajava, os fabricantes enviavam-lhe os seus pedidos. Ele era um bom cliente. Com o tempo, as pessoas dos povoados vizinhos preferiam comprar na sua loja de ferragens, do que gastar dias em viagens.
Um dia lembrou-se de um amigo seu que era torneiro e ferreiro e pensou que este poderia fabricar as cabeças dos martelos. E logo, por que não, as chaves de fendas, os alicates, as talhadeiras, etc..
E depois foram os pregos e os parafusos... Em poucos anos, o nosso amigo transformou-se, com o seu trabalho, num rico e próspero fabricante de ferramentas.
Um dia decidiu doar uma escola ao povoado. Nela, além de ler e escrever, as crianças aprenderiam algum ofício. No dia da inauguração da escola, o prefeito entregou-lhe as chaves da cidade, abraçou-o e lhe disse:
-É com grande orgulho e gratidão que lhe pedimos que nos conceda a honra de colocar a sua assinatura na primeira página do Livro de atas desta nova escola.
- A honra seria minha - disse o homem. Seria a coisa que mais me daria prazer, assinar o Livro, mas eu não sei ler nem escrever, sou analfabeto.
-O Senhor?!?! - disse o prefeito sem acreditar. O Senhor construiu um império industrial sem saber ler nem escrever? Estou abismado. Eu pergunto:
- O que teria sido do Senhor se soubesse ler e escrever?
- Isso eu posso responder - disse o homem com calma. Se eu soubesse ler e escrever... ainda seria o PORTEIRO DO PROSTÍBULO!!!
Geralmente as mudanças são vistas como adversidades. As adversidades podem ser bênçãos. As crises estão cheias de oportunidades. Se alguém lhe bloquear a porta, não gaste energia com o confronto, procure as janelas.
Lembre-se da sabedoria da água: “A água nunca discute com seus obstáculos, mas os contorna-os”.
Que a sua vida seja cheia de vitórias, não importa se são grandes ou pequenas, o importante é comemorar cada uma delas. Não há comparações entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar. 

domingo, outubro 18, 2015

O Religioso e os Filhos

Narra uma antiga lenda que um religioso dedicado, vivia muito feliz com a sua família: uma esposa admirável e dois filhos queridos.
Uma certa vez empreendeu uma longa viagem, ausentando-se do lar por vários dias. Nesse período, um grave acidente provocou a morte dos dois filhos amados. A mãe sentiu o coração dilacerado de dor.
No entanto, por ser uma mulher forte, sustentada pela fé e pela confiança em Deus, suportou o choque com bravura. Mas, uma preocupação vinha-lhe à mente: como dar ao esposo a triste notícia? Sabendo-o portador de insuficiência cardíaca, temia que não suportasse tamanha comoção. Lembrou-se de fazer uma prece, rogando a Deus auxílio para resolver a difícil questão.
Alguns dias depois, num final de tarde, o religioso retornou ao lar. Abraçou longamente a esposa e perguntou pelos filhos. Ela pediu para que não se preocupasse. Que tomasse o seu banho, e logo depois lhe falaria dos moços.
Alguns minutos depois, estavam ambos sentados à mesa. Ela lhe perguntou sobre a viagem, e logo ele perguntou novamente pelos filhos. A esposa, numa atitude um tanto embaraçada, respondeu ao marido:
- Deixe os filhos. Primeiro quero que me ajude a resolver um problema que considero grave.
O marido, já um pouco preocupado, perguntou:
- O que aconteceu? Notei que estás abatida! Fala! Resolveremos juntos, com a ajuda de Deus.
- Enquanto estiveste ausente, um amigo nosso visitou-me e deixou duas joias de valor incalculável, para que as guardasse. São joias muito preciosas! Jamais vi algo tão belo! O problema é esse... Ele vem buscá-las e não estou disposta a devolvê-las, pois já me afeiçoei a elas. O que me dizes?
- Ora, mulher! Não estou a entender o seu comportamento! Tu nunca cultivaste vaidades! Porque isso agora?
- É que nunca tinha visto joias assim! São maravilhosas!
- Podem até ser, mas não te pertencem! Terás que devolvê-las.
- Mas eu não consigo aceitar a ideia de perdê-las!
E o religioso respondeu com firmeza:
- Ninguém perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo! Vamos devolvê-las, te ajudarei. Faremos isso juntos, hoje mesmo.
- Pois bem, meu querido, seja feita a sua vontade. O tesouro será devolvido. Na verdade isso já foi feito. As joias preciosas eram os nossos filhos. Deus os confiou à nossa guarda, e durante a sua viagem Ele veio buscá-los… Eles se foram...
O religioso compreendeu a mensagem. Abraçou a esposa, e juntos derramaram muitas lágrimas.
Esta história é dedicada a todos os pais que sofrem com a perda de filhos, mas também a todos aqueles que perderam alguém.
Bem hajam.

terça-feira, outubro 06, 2015

O Burro de carga

No tempo em que não havia automóveis, na cocheira dum famoso palácio real, um burro de carga passava imensa amargura, sendo algo de piadas por parte dos companheiros de cocheira.
Reparando-lhe o pêlo maltratado, as fundas cicatrizes do lombo e a cabeça tristonha e humilde, aproximou-se um formoso cavalo árabe detentor de muitos prémios, dizendo orgulhoso:
- Triste sina a que recebeste! Não invejas a minha posição nas corridas?
Sou acariciado por mãos de princesas e elogiado pela palavra dos réis!
- Pudera! - exclamou um potro de fina origem inglesa:
- Como conseguirá um burro entender o brilho das apostas e o gosto da caça? O infortunado animal recebia os sarcasmos, resignadamente.
Outro soberbo cavalo, de procedência húngara, entrou no assunto e comentou:
- Há dez anos, quando me ausentei da pastagem, vi este miserável a sofrer rudemente nas mãos de um bruto trabalhador. É tão covarde que não chegava a reagir, nem mesmo com um coice. Não nasceu senão para carga e pancadas. É vergonhoso suportar-lhe a companhia.
Nisto, um admirável jumento espanhol acercou-se do grupo, e acentuou sem piedade:
- Lastimo reconhecer neste burro um parente próximo. É animal desonrado, fraco, inútil, não sabe viver senão sob pesadas disciplinas. Ignora o aprumo da dignidade pessoal e desconhece o amor-próprio. Aceito os deveres que me competem até o justo limite; mas se me constrangem a ultrapassar as obrigações, recuso-me à obediência, pinoteio e sou capaz de matar.
As observações insultuosas não tinham terminado, quando o rei entrou no recinto, em companhia do chefe das cavalariças.
- Preciso de um animal para serviço de grande responsabilidade, informou o monarca. Um animal dócil e educado, que mereça absoluta confiança. O empregado perguntou:
- Não prefere o árabe, Majestade?
- Não, não - falou o soberano, é muito altivo e só serve para corridas em festejos oficiais sem maior importância.
- Não quer o potro inglês?
- De modo algum. É muito irrequieto e não vai além das extravagâncias da caça.
- Não deseja o húngaro?
- Não, não. É bravo e sem qualquer educação. É apenas um pastor de rebanho.
- O jumento espanhol serviria? - insistiu o servidor atencioso.
- De maneira nenhuma. É manhoso e não merece confiança.
Decorridos alguns instantes de silêncio, o soberano indagou:
- Onde está o meu burro de carga?
O chefe das cocheiras indicou-o, entre os demais.
O próprio rei puxou-o carinhosamente para fora, mandou-o selar com as armas resplandecentes da sua Casa e confiou-lhe o filho ainda criança, para longa viagem.
E ficou tranquilo, sabendo que poderia colocar toda a sua confiança naquele animal...
Assim também acontece na vida. Em todas as ocasiões, temos sempre grande número de amigos, de conhecidos e companheiros, mas somente nos prestam serviços de utilidade real aqueles que já aprenderam a servir, sem pensar em si mesmos.


Pensem nisto. Bem hajam