terça-feira, junho 06, 2017

Carpintaria O SETE

Era uma vez uma casinha num terreno nos arredores da cidade. Na parte da frente tinha uma pequena oficina com algumas máquinas e ferramentas, dois quartos, uma cozinha e, nas traseiras, uma rudimentar casa de banho...
No entanto Joaquim não se queixava. Durante os últimos dois anos, a oficina da carpintaria “o sete” tornara-se conhecida na aldeia e ele ganhava o suficiente para não ter de recorrer às suas poupanças.
Naquele dia, como em todos os outros, levantou-se às seis e meia para ver nascer o sol. Porém, não conseguiu chegar ao lago, como costumava fazer, porque pelo caminho, a uns duzentos metros da sua casa, quase tropeçou no corpo ferido e maltratado de um jovem.
Ajoelhou-se rapidamente e encostou o ouvido ao seu peito... Lá muito ao longe, debilmente, um coração esforçava-se por manter o pouco que restava de vida naquele corpo imundo e a tresandar a sangue, sujidade e álcool.
O Joaquim foi buscar um carrinho de mão, dentro do qual transportou o jovem. Ao chegar a casa, estendeu o corpo em cima da sua cama, cortou as roupas puídas e lavou-o cuidadosamente com água, sabonete e álcool.
O rapaz, além de estar embriagado, tinha sido violentamente esfaqueado. Tinha cortes nas mãos e nas costas, e a sua perna direita estava partida.
Durante os dois dias seguintes, toda a vida do Joaquim se centrou na saúde do seu hóspede involuntário: curou e enfaixou as suas feridas, pôs-lhe uma tala na perna e alimentou o jovem com pequenas colheradas de canja de galinha.
Quando o jovem despertou, o Joaquim encontrava-se ao seu lado a fitá-lo com ternura e ansiedade.
- Como te sentes?- perguntou. - Bem...acho- respondeu o jovem, inspeccionando o seu corpo limpo e tratado. - Quem me tratou? - Eu.- Porquê? - Porque estavas ferido. - Só por isso? - Não, também porque preciso de um ajudante. E ambos riram a gosto.
Bem comido, bem dormido e sem ter bebido uma gota de álcool, o Manuel, que era como se chamava o rapaz, recuperou rapidamente as forças.
O Joaquim tencionava ensinar-lhe o ofício e o Manuel tentava fugir ao trabalho como podia. Uma e outra vez, o Joaquim tentava incutir naquela cabeça deteriorada pela vida dissoluta as vantagens do trabalho, do bom nome e da vida honesta.
Uma e outra vez, o Manuel parecia entende-lo, duas horas depois, ou dois dias depois, tornara-se a deixar dormir e esquecia-se de cumprir a tarefa que o Joaquim lhe pedira.
Passaram-se meses e o Manuel estava completamente recuperado. O Joaquim oferecera-lhe o quarto principal da casa, uma sociedade no negócio e o primeiro turno na casa de banho, em troca da promessa de o jovem se dedicar ao trabalho.
Uma noite, enquanto o Joaquim dormia, o Manuel decidiu que seis meses de abstinência eram mais que suficientes e achou que não fazia mal ir tomar um copo à povoação. Não fosse o Joaquim acordar ao meio da noite, achou melhor fechar a porta do seu quarto, por dentro e sair pela janela, deixando uma vela acesa para dar a sensação de que estava na cama.
O primeiro copo puxou o segundo, e este o terceiro, e o quarto, e muitos outros...
Estava a cantar com os seus colegas de bebedeira, quando passaram os bombeiros à porta do bar, com as sirenes em altos berros. O Manuel não relacionou esse pormenor com o que estava a acontecer, até que, já de madrugada, a cambalear, chegou a casa e viu uma multidão na rua...
Só se consegui salvar uma parede, as máquinas e algumas ferramentas do incêndio. O resto foi destruído pelas chamas. Do Joaquim, encontraram apenas quatro ou cinco ossos chamuscados, que enterraram no cemitério com uma lápide onde Manuel mandou gravar o seguinte epitáfio: “vou fazer, Joaquim, vou fazer!”.
Com muito trabalho, o Manuel reconstruiu a carpintaria. Ele era distraído, mas hábil, e o que aprendera com o Joaquim serviu-lhe para conseguir gerir o negócio.
Tinha sempre a sensação de que, algures, o Joaquim estava a observá-lo e dar-lhe alento. O Manuel lembrava-se dele em todos os acontecimentos importantes da sua vida: o seu casamento, o nascimento do seu primeiro filho, a compra do seu primeiro automóvel...
A quinhentos km dali, o Joaquim, vivinho da silva, perguntava-se se seria legítimo mentir, enganar e deitar o fogo aquela casa tão bonita só para salvar um jovem.
Respondeu para si próprio que sim e riu só de pensar na polícia da ladeia, que confundira ossos de porco com ossos humanos...
A sua nova carpintaria, um pouco mais modesta do que a anterior, já era conhecida na aldeia. Chama-se "O Oito".
- Às vezes, a vida faz com que seja difícil ajudar uma pessoa de quem se gosta. No entanto, se existe uma dificuldade que vale a pena enfrentar, é a de ajudar alguém. Não se trata de um dever "moral", nem nada do género, é uma escolha de vida que cada pessoa pode fazer em qualquer instante no sentido que desejar.
Diz-nos a experiência pessoal de vivências e observações que o ser humano livre, que se conhece a si próprio, é generoso, solidário, amável e capaz de apreciar na mesma medida tanto o dar, como receber. Portanto, sempre que encontrarem pessoas que só sabem olhar para o seu umbigo, não as odeies: já devem ter problemas de sobra por si mesmas. Sempre que dês por ti cometer um ato mesquinho, ruim ou tacanho, aproveita para perguntares a ti mesmo o que está a acontecer. Garanto-te que, em algum ponto, te desviaste do teu caminho. ("Deixa-me que te conte" de Jorge Bucay)
Bem hajam,

Miguel Ferreira

terça-feira, fevereiro 28, 2017

A importância de ser o que se é (As coisas são o que são.)

Num certo dia, um Samurai, que era um guerreiro muito orgulhoso, veio ver um Mestre Zen. Embora fosse muito famoso, ao olhar o Mestre, e com a beleza e o encanto daquele momento, o samurai sentiu-se repentinamente inferior.
Perguntou então ao Mestre Zen – “Porque me estou a sentir inferior? A 10 mínutos estava tudo tão bem e quando aqui entrei, subitamente senti-me inferior e nunca me tinha sentido assim. Encarei a morte muitas vezes, mas nunca experimentei nenhum medo. Porque me estou a sentir assustado agora?”
O Mestre falou: – “Espere. Quando todos se forem embora, responderei.”
Durante todo o dia, chegavam pessoas para ver o Mestre, e o samurai estava a ficar mais e mais cansado de esperar. Ao anoitecer, quando o quarto estava vazio, o samurai perguntou novamente:
– “Agora já me pode responder porque me sinto inferior?”

O Mestre levou-o para fora. Estava uma noite de lua cheia e a lua estava justamente a surgir no horizonte e então disse o Mestre:
– “Olhe para estas duas árvores: a árvore alta e a árvore pequena ao seu lado. Ambas estiveram juntas ao lado da minha janela durante anos e nunca houve nenhum problema. A árvore menor jamais disse à maior: ” Porque me sinto inferior diante de si? ” Esta árvore é pequena e aquela é grande – este é o facto, e nunca ouvi sussurro nenhum sobre isso.”

O samurai então argumentou: – “Isto dá-se porque elas não se podem comparar.”
E o Mestre replicou: Então não me precisa perguntar. Você sabe a resposta. Quando você não compara, toda a inferioridade e superioridade desaparecem. Você é o que é e simplesmente existe. Um pequeno arbusto ou uma grande e alta árvore, não importa, você é o que é.
Uma folhinha da relva é tão necessária quanto a maior das estrelas. O canto de um pássaro é tão necessário quanto qualquer Buda, pois o mundo será menos rico se este canto desaparecer.
Simplesmente olhe à sua volta. Tudo é necessário e tudo se encaixa. É uma unidade orgânica: ninguém é mais alto ou mais baixo, ninguém é superior ou inferior. Cada um é incomparavelmente único. Você é necessário e basta. Na Natureza, tamanho não é diferença. Tudo é expressão igual de vida!

segunda-feira, fevereiro 13, 2017

Receita: Como NÃO ter sucesso!

Depois de já muito ter lido sobre sucesso e entendendo-se este como um conceito muito subjetivo, que varia de pessoas para pessoa, grande parte das dicas para o alcançar não servem para todos. Por outro lado, se fosse tão simples não haveria tantas pessoas com a vida tão desorganizada e cheia de insucessos.

Assim e para provocar, segue uma série de “dicas para NÃO ter sucesso”, que o afastaram definitivamente dos resultados que quer alcançar ou famoso “sucesso”, seja lá qual for o conceito que possa ter.
Quanto maior a quantidade de pontos seguir, menor será a hipótese de ser bem-sucedido. Então lá vai:
1 - Aja como um falhado ou perdedor: Lamente-se, queixe-se, reclame e fique sempre focado nos seus problemas. Jamais procure soluções.
2 - Trate as pessoas com desrespeito, impessoalidade, indiferença. Não dê atenção a ninguém que não represente para si uma boa oportunidade de negócios. Considere-as meros números na sua estratégia.
3 - Seja mal-humorado, arrogante e mal-educado. Viva como se fosse “última bolacha do pacote”. Faça questão de não memorizar o nome das pessoas, próximas ou não.
4 - Deixe a sua saúde para depois. Afinal, dinheiro, trabalho, TV, relatórios, petiscadas, bebida, cigarros são muito mais importantes.
5 - Gaste o seu dinheiro sem planeamento e critério. De preferência gaste bem mais do que ganha. Faça dívidas, muitas dívidas, principalmente em cartão de crédito. Faça créditos intermináveis e pague por uma coisa três vezes que o valor real.
6 - Use constantemente frases do tipo: “Não sei”, “não posso”, “não consigo”, “não sei se vou conseguir”, “isso é muito difícil”.
7 - Coloque a culpa dos seus fracassos nos outros. Esta é fundamental. Jamais assuma os seus erros ou aprenda com eles.
8 - Aja como vítima. Viva a dizer que “todos estão contra si”, “que nada dá certo”, “que é um azarado”, etc, etc, etc
9 - Esteja sempre distante das pessoas que ama, como familiares e amigos. Visite-os apenas para cumprir a obrigação.
10 - Deixe tudo para amanhã. Adie tudo o máximo que puder. Seja um procrastinador nato.

Para provar que isto não é só uma brincadeira, dê-se conta a sua volta de pessoas que adotam alguns destes comportamentos e veja em que condições se encontram. E se estiver a pensar: “Conheço alguns que fazem muitas destas coisas e obtém relativo sucesso”, tenha a certeza de que é algo fugaz e efêmero. Não se pode enganar as pessoas por muito tempo, e talvez o preço a ser pago por isso seja muito mais caro no futuro.

Bem hajam,

Miguel Ferreira


segunda-feira, janeiro 30, 2017

O caso do Abacaxi

João trabalhava numa empresa há muitos anos. Era um funcionário sério, dedicado, cumpridor das suas obrigações e, por isso mesmo, já com 20 anos de casa.
Um belo dia, procurou o dono da empresa para fazer uma reclamação:
– Patrão, tenho trabalhado durante estes 20 anos na empresa com toda a dedicação, só que me sinto injustiçado. O Luis, que está connosco há somente três anos, está a ganhar mais do que eu e foi promovido para um cargo superior ao meu.
Ao que lhes respondeu o patrão – João, foi muito bom vir aqui. Antes de tocarmos neste assunto, tenho um problema para resolver e gostaria da sua ajuda. Quero dar frutas como sobremesa ao nosso pessoal após o almoço. Aqui na esquina existe uma quinta. Por favor, dirija-se e verifique se eles têm abacaxi.
De contra gosto e até um tanto indignado pelo estranho pedido, o funcionário foi e voltou quase uma hora depois, pois tinha aproveitado para fumar, tomar café na pastelaria da esquina e conversar com alguns conhecidos que passavam.
Retornou e foi à sala do patrão:
– Então João?
– Verifiquei como o senhor me mandou. Eles têm abacaxi.
– E quanto é que custam?
– Isso não perguntei! Disse ele.
– Eles têm quantidade suficiente para atender a todos os funcionários?
– Isso também eu não perguntei.
– Há alguma outra fruta que possa substituir o abacaxi?
– Não sei, não…
– Muito bem, João. Sente-se nesta cadeira e aguarde um pouco.
O patrão pegou no telefone e mandou chamar o Luis. Deu-lhe a mesma orientação que dera a João:
– Luis, quero dar frutas como sobremesa ao nosso pessoal após o almoço. Aqui na esquina tem uma quinta. Dirija-se lá e verifique se eles têm abacaxi, por favor.
Luis saiu para cumprir a sua missão e, em oito minutos, voltou.
– E então? Indagou o patrão.
– Eles têm abacaxi, sim, e em quantidade suficiente para o nosso pessoal. Se o senhor preferir tem também laranja, banana e melão. O abacaxi custa €1 cada, a banana e o melão são €0,75 o quilo, e a laranja €0,60 o quilo. Mas como eu disse que a compra seria grande, eles deram-me 15% de desconto. Assim, aproveitei e já deixei reservado. Conforme o senhor decidir, volto lá e confirmo – explicou o Luis.
Agradecendo as informações Luis! E então o patrão dispensou-o. Voltou-se para o João que permanecia sentado ali e perguntou-lhe:
– João, o que era mesmo que me estava a dizer?
– Nada de sério, depois falarei consigo. Esqueça. Com licença. E João deixou a sala.

Bem hajam,


Miguel Ferreira

domingo, janeiro 15, 2017

As Quatro Leis da Espiritualidade

Caro leitor, aqui vos deixo as Quatro Leis da Espiritualidade ensinadas na Índia, sabendo que nos poderá ajudar muita na perceção da realidade e assim mudar a forma como nos sentimos perante as mudanças da vida. Assim.
A primeira diz: “A pessoa que vem é a pessoa certa“. Ninguém entra nas nossas vidas por acaso. Todas as pessoas ao nosso redor, que interagem connosco, têm algo para nos fazer aprender e avançar em cada situação.
A segunda lei diz: “Aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido“. Nada, absolutamente nada do que acontece nas nossas vidas poderia ter sido de outra forma. Mesmo o menor detalhe. Não há nenhum “se eu tivesse feito tal coisa…” ou “aconteceu que um outro…”. Não. O que aconteceu foi tudo o que poderia ter acontecido, e foi para aprendermos a lição e seguirmos em frente. Todas e cada uma das situações que acontecem nas nossas vidas são perfeitas.
A terceira diz: “Toda vez que você iniciar é o momento certo“. Tudo começa na hora certa, nem antes nem depois. Quando estamos prontos para iniciar algo novo nas nossas vidas, é que as coisas acontecem.
E a quarta e última afirma: “Quando algo termina, ele termina“. Simplesmente assim. Se algo acabou nas nossas vidas é para a nossa evolução. Por isso, é melhor sair, ir em frente e enriquecer-se com a experiência. Não é por acaso que estão a ler este texto agora. Se está a aparecer na nossa vida hoje, é porque estamos preparados para entender que nenhum floco de neve cai no lugar errado.

Bem hajam e boas vivências,


Miguel Ferreira

segunda-feira, janeiro 02, 2017

O elefante acorrentado

— Não consigo — disse-lhe. — Não consigo!
— Tens a certeza? — perguntou-me ele.
— Tenho! O que eu mais gostava era de conseguir sentar-me à frente dela e dizer-lhe o que sinto… Mas sei que não sou capaz.
O gordo sentou-se de pernas cruzadas à Buda, naqueles horríveis cadeirões azuis do seu consultório. Sorriu, fitou-me olhos nos olhos e, baixando a voz como fazia sempre que queria que o escutassem com atenção, disse-me:
— Deixa-me que te conte…
E sem esperar pela minha aprovação, o Jorge começou a contar.
Quando eu era pequeno, adorava o circo e aquilo de que mais gostava eram os animais. Cativava-me especialmente o elefante que, como vim a saber mais tarde, era também o animal preferido dos outros miúdos. Durante o espetáculo, a enorme criatura dava mostras de ter um peso, tamanho e força descomunais… Mas, depois da sua atuação e pouco antes de voltar para os bastidores, o elefante ficava sempre atado a uma pequena estaca cravada no solo, com uma corrente a agrilhoar-lhe uma das suas patas.
No entanto, a estaca não passava de um minúsculo pedaço de madeira enterrado uns centímetros no solo. E, embora a corrente fosse grossa e pesada, parecia-me óbvio que um ani­mal capaz de arrancar uma árvore pela raiz, com toda a sua força, facilmente se conseguiria libertar da estaca e fugir.
O mistério continua a parecer-me evidente.
O que é que o prende, então?
Porque é que não foge?
Quando eu tinha cinco ou seis anos, ainda acreditava na sabedoria dos mais velhos. Um dia, decidi questionar um professor, um padre e um tio sobre o mistério do elefante. Um deles explicou-me que o elefante não fugia porque era amestrado.
Fiz, então, a pergunta óbvia:
— Se é amestrado, porque é que o acorrentam?
Não me lembro de ter recebido uma resposta coerente. Com o passar do tempo, esqueci o mistério do elefante e da estaca e só o recordava quando me cruzava com outras pessoas que também já tinham feito essa pergunta.
Há uns anos, descobri que, felizmente para mim, alguém fora tão inteligente e sábio que encontrara a resposta:
O elefante do circo não foge porque esteve atado a uma estaca desde que era muito, muito pequeno.
Fechei os olhos e imaginei o indefeso elefante recém-nascido preso à estaca. Tenho a certeza de que naquela altura o elefantezinho puxou, esperneou e suou para se tentar libertar. E, apesar dos seus esforços, não conseguiu, porque aquela estaca era demasiado forte para ele.
Imaginei-o a adormecer, cansado, e a tentar novamente no dia seguinte, e no outro, e no outro… Até que, um dia, um dia terrível para a sua história, o animal aceitou a sua impotência e resignou-se com o seu destino.
Esse elefante enorme e poderoso, que vemos no circo, não foge porque, coitado, pensa que não é capaz de o fazer.
Tem gravada na memória a impotência que sentiu pouco depois de nascer.
E o pior é que nunca mais tornou a questionar seriamente essa recordação.
Jamais, jamais tentou pôr novamente à prova a sua força…
— E é assim a vida, Damião. Todos somos um pouco como o elefante do circo: seguimos pela vida fora atados a centenas de estacas que nos coartam a liberdade.
Vivemos a pensar que «não somos capazes» de fazer montes de coisas, simplesmente porque uma vez, há muito tempo, quando éramos pequenos, tentámos e não conseguimos.
Fizemos, então, o mesmo que o elefante e gravámos na nossa memória esta mensagem: «Não consigo, não consigo e nunca hei-de conseguir.»
Crescemos com esta mensagem que impusemos a nós mesmos e, por isso, nunca mais tentámos libertar-nos da estaca.
Quando, por vezes, sentimos as grilhetas e as abanamos, olhamos de relance para a estaca e pensamos:
Não consigo e nunca hei-de conseguir.
 O Jorge fez uma longa pausa. Depois, aproximou-se, sentou-se no chão à minha frente e prosseguiu:
— É isto que se passa contigo, Damião. Vives condicionado pela lembrança de um Damião que já não existe, que não foi capaz.
A única maneira de saberes se és capaz é tentando novamente, de corpo e alma… e com toda a forca do teu coração!
Autor: Jorge Bucay, Deixa-me que te conte. Os contos que me ensinaram a viver.

Bem hajam e livrem-se das vossas estacas.

Miguel Ferreira