As pessoas inseguras geralmente possuem uma visão idealizada do que é ser autoconfiante. Muitas imaginam que as pessoas confiantes não têm medo de nada e estão dispostas a enfrentar tudo com o peito e a coragem, e jamais sentem a mínima insegurança. Essa idealização torna o autoconceito da pessoa insegura ainda mais crítico, pois ao comparar-se a essa noção duma pessoa superconfiante, sente-se ainda mais insegura e inadequada.
Esta idealização, contudo, é extremamente ilusória. A autoconfiança completa é um mito e, quando real, caracteriza um quadro de arrogância ou mesmo de distúrbio mental – o “louco” pode ter uma autoconfiança extrema pelo simples facto de que não tem noção da realidade! Qualquer pessoa “normal” sente insegurança, em diversos níveis e em diversas situações na vida.
A diferença essencial é que a pessoa que costuma ser mais autoconfiante do que insegura pode até ter receios e duvidar da própria capacidade ou competência, mas tende a ser mais optimista e, no geral, não faz grande caso disso.
A pessoa que costuma ser mais insegura, por outro lado, faz grande caso de pequenas coisas e detalhes, como se a sua vida dependesse de resultados que são, na realidade, insignificantes ou pelo menos não tão importantes para justificar o stresse.
Toda esta preocupação gera ansiedade. A ansiedade é o exagero emocional gerado pela percepção incorreta do que está a ser enfrentado, ou seja, a pessoa faz uma grande tempestade num copo d’água, dando um peso demasiado grande para eventos que não deveriam ser valorizados dessa forma.
Um dos exemplos mais comuns é o medo de falar em público. Várias pesquisas comprovaram que as pessoas têm mais medo de falar em público do que da própria morte! Contudo falar em público não mata, nem nos tira nenhum pedaço. A ansiedade gerada por este tipo de situação, no entanto, mostra quão valorizada é a ideia de se expor publicamente.
Esta valorização extrema faz com que a pessoa acredite que precisa de ter um desempenho perfeito e é esta cobrança excessiva que gera a ansiedade neste caso. A pessoa autoconfiante, pelo contrário, não dá muito valor para o facto de se estar a expor em público e, apesar de poder passar por momentos de insegurança ou receios com relação à própria performance, é o peso que se dá à situação que define quão ansiosa se irá sentir. Ao não atribuir um valor muito grande, a pessoa sente-se mais tranquila e esta postura confere-lhe maior segurança ao passar pela experiência.
A insegurança e a ansiedade acabam por andar juntas e uma reforça a outra. Quanto maior for a “tempestade” feita com a ideia de passar por uma determinada situação, maior a ansiedade e, consequentemente, maior o nível de insegurança. Neste caso, a baixa auto-estima o pessimismo e a desconfiança quanto à própria capacidade, são as características que nutrem a insegurança, que por sua vez, alimentam ainda mais a ansiedade.
A ansiedade, em primeiro lugar, é uma questão de “opinião”. O que pensa sobre um determinado assunto define como irá sentir em relação a ele. Quanto mais dramatiza negativamente, ou seja, quanto mais valor dá a uma situação, mais ansiedade irá sentir. É muito importante não encarar aqui esta ansiedade como uma desordem emocional avançada ou uma doença (pois, não nos estamos a referir a casos clínicos, como o síndrome do pânico ou distúrbio bipolar, mas, sim, a ansiedade comum). A ansiedade não pode ser comparada a uma gripe que se “apanha” de repente, uma vez que se desenvolve na mente e depende dos seus conceitos e das suas opiniões para se fortalecer ou enfraquecer na vida.
Assim, também a insegurança segue o mesmo caminho. O pessimismo, a baixa auto-estima e a dúvida quanto à sua própria capacidade são coisas que nascem no nível das ideias e, assim como a ansiedade, não é uma doença que “se apanha” acidentalmente e, portanto, deve ser solucionada ao mesmo nível em que é criada.
As soluções mais práticas e eficazes para a ansiedade e insegurança são revisar os próprios conceitos pessoais que geram o medo causador das sensações de inadequação e desconfiança e expor-se o máximo possível, forçando-se a passar por experiências – quanto mais, melhor, até que se gerem novas convicções sobre um mesmo desafio.
Grande parte da ansiedade e insegurança está ligada à falta de experiência. As pessoas que superaram o medo de falar em público referem sempre que o segredo é simplesmente expor-se o máximo possível e aproveitar toda e qualquer oportunidade para falar até que a se perceba, através da experiência pessoal, que não há nada de mais em expor-se frente a uma plateia – ou seja, a aprendizagem ocorre justamente quando o valor excessivo é retirado da situação. A pessoa que tem medo de falar em público e, com isso, desencadeia ansiedade e insegurança acha que isso é uma “grande coisa” e começa a formar um filme negativo enorme dentro da sua cabeça; ao passo que a pessoa que vai passando por esse tipo de experiências começa a reduzir o valor dado a essa actividade e começa a percebê-la como uma coisa normal, rotineira – logo, não alimenta toda a preocupação ansiosa ou de dúvidas em relação à sua própria capacidade. Ou seja, quando a experiência se torna comum, ai é desmascarada e essa ilusão cai por terra, tornando-se ridículo todo o medo anterior. É como acender a luz num quarto escuro, quando se consegue ver todos os detalhes da realidade, de repente deixa de parece tão assustadora!
Despojar-se desta forma e predispor-se a passar por experiências com o objectivo de extinguir a insegurança e a ansiedade geradas pela ideia de passar por elas acaba por ter um efeito glorioso, começando a não necessitar de repetir o mesmo processo com tudo o que anteriormente gerava ansiedade e insegurança. Desta forma aprende e torna-se um “craque” a dominar as suas emoções sempre que surge uma nova situação. Aprendemos muito por generalizações, e até pode não ter muita experiência com uma determinada situação específica, mas tem a experiência de enfrentar os seus fantasmas e isso começa a dar-lhe um forte senso de autoconfiança. Mesmo sendo realista e tendo a noção de que poderá não ser o melhor ou que até pode cometer algum deslize, a ansiedade já lá não está. Desta forma e através deste tipo de atitude – enfrentando os seus receios, você será capaz de dar “conta do recado” sem se alterar emocionalmente – isto é a verdadeira autoconfiança!
Força e bons desafios.
Miguel Ferreira
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