Uma das grandes causas da infelicidade no
mundo atual é a desatenção. Estamos desatentos ao que fazemos, à(s) pessoa(s)
com quem estamos, ao trabalho em que estamos envolvidos, ao momento presente. E
a cura para distração... é a atenção.
Como é que nós podemos ter atenção? O que é realmente a atenção? Tudo o que
nós precisamos de pensar é em como é que esperamos receber atenção da outra
pessoa.
Para realizarmos o que quer que seja é importante a reflexão e a meditação.
Se tem um problema e precisa conversar com um amigo, vai procurá-lo, sentar-se
com ele, explicar o que está a sentir, o que tem passado e tudo o que realmente
espera dele é que lhe dê toda á sua atenção. Esta é a coisa mais importante que
ele pode fazer por si naquele momento. Mas se você é interrompido após uns dois
minutos e ele começa a falar dos seus próprios problemas, ou começa a dar uma
solução simples e óbvia para o seu problema, então, o deixará sem se sentir
melhor do que quando foi procurá-lo. Mas, se realmente ele lhe der toda a sua
atenção, então recebe dele o precioso dom do seu “Ser”. É o que fazemos quando
damos atenção a alguém ou alguma coisa. Ai nós a amamos, realizamos o dom de
ser. Isto não é fácil de dar, mas é o que há de mais rico e gratificante para
ambos.
Quando recebe o dom da atenção da outra pessoa, quando realmente, ela
presta atenção a si, está realmente interessada, com o coração aberto para si,
então ai sentir-se-á amado, e isso faz com que se sinta mais capaz de lidar com
aqueles problemas e dificuldades que está a enfrentar.
A atenção é verdadeiramente a qualidade essencial de todos os
relacionamentos humanos. Quando ama alguém você presta atenção a ela, e por
norma amamos aquilo em que prestamos atenção, e isto é muito visível no amor
dos pais pelos filhos, assim como em grandes problemas que nos tiram a paz,
quando não temos a atenção que necessitamos.
Se deixa de amar alguém é porque não lhe consegue prestar mais atenção, ou
algo o distraiu, talvez uma outra pessoa, ou o seu trabalho, ou algum
entretenimento.
Podemos dizer que, aprender a dar atenção é aprender a ser inteiramente
humano e a amar o outro, os filhos, os animais, a natureza, a Deus, ou o que
quer seja. É a essência de toda boa obra, seja trabalho escolar, seja trabalho
profissional, seja trabalho em família. Qualquer coisa que você faça, ou o
trabalho que realiza depende, para a sua qualidade, sobretudo... do tipo de
atenção que lhe está a dar.
Atenção significa foco... simplicidade... significa dar a sua atenção a uma
coisa, pessoa ou aspeto imaginativo mental. Não se trata duma forma viciante de
fixação e compulsividade. Isso não é atenção.
Trata-se de ser capaz de se dar a si mesmo naquele momento, naquele
trabalho, observar o que está a fazer, observar a pessoa que está consigo.
Assim, ligado a atenção está a prática da meditação, da reflexão ou oração
consciente.
Aprender a meditar é aprender a prestar atenção. É a arte da atenção na sua
forma mais simples, pura e imediata. Quando se senta para meditar ou orar, deixa
“partir“ as milhares de coisas diferentes que passam pela sua vida, as “cem mil”
coisas que estão a acontecer na sua mente o dia todo.
E não subestime o quão distraído anda. A primeira coisa que descobrimos
quando nos sentamos para meditar é o quão difícil é prestar atenção. Sentar-se,
fechar os seus olhos, ficar quieto e dizer a sua palavra. Isto não é fácil e não
espere que seja fácil. Mas é simples e porque é simples qualquer um pode
realizar se realmente desejar e for humilde suficiente para perseverar nela e
aprender aos poucos, dia a dia, como prestar atenção.
Os frutos da atenção tornam-se evidentes na sua qualidade de vida, na
qualidade dos seus relacionamentos, na qualidade do seu trabalho.
E sempre que perceber que voltou a estar distraído, e isso acontece
frequentemente, pois vivemos num mundo muito distraído, envolvidos constantemente
pelos média, internet, amigos, atividades, viagens, estudos, trabalho, absorvidos
em centenas de direcções diferentes. Sempre que percebe que está perdido, que
perdeu a sua atenção, pois começa a reconhecer os sintomas, muito rapidamente, começa
a sentir que está em desarmonia consigo mesmo, em desarmonia com outras
pessoas, não conseguindo aproveitar as coisas simples da vida. Reconhece esses
sintomas! E porque os reconhece, pode fazer algo a respeito. Sentar-se quieto,
relaxar e meditar. E com este hábito diário, desenvolver a sua atenção com o
seu interior, com o seu “ser”, e a partir dai, naturalmente criar a harmonia, a
paz e serenidade, e com este estado, a partir do nosso cerne, conseguir
conviver com mais atenção a tudo e a todos, ou seja, tratar a tudo e a todos
com amor puro, que não é mais do que plena atenção consciente.
Bem hajam.
Miguel Ferreira
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