sexta-feira, setembro 30, 2011

O PERIGO DAS PRESSUPOSIÇÕES


Abriu a porta e viu algo que há muito não via. Estranhou que viesse acompanhado de um cão. Cão forte, saltitante e com ar agressivo. Cumprimentou o amigo efusivamente.
- Há quanto tempo!
- Há Quanto tempo – ecoou o outro.
O cão aproveitou a saudação e entrou casa adentro. Logo um barulho na cozinha demonstrava que tinha virado qualquer coisa. O dono da casa encompridou as orelhas. O amigo visitante, porém, nada.
- A última vez que nos vimos foi em...
O cão passou pela sala, entrou no quarto, e novo barulho, desta vez de qualquer coisa quebrada. Houve um sorriso amarelo do dono da casa, mas perfeita indiferença do visitante.
- Quem morreu foi o... lembra-se dele?
O cão saltou sobre um móvel, derrubou um abajur, logo trepou as patas sujas no sofá e deixou a marca digital e indelével do seu crime. Os dois amigos, tensos, agora fingiram não perceber.
Por fim, o visitante despediu-se e já ia a sair quando o dono da casa perguntou:
- Não vai levar o seu cão?
- Cão? Ah, cão! Oh, agora estou a entender. O cão não é meu. Quando eu entrei, ele entrou comigo tão naturalmente que pensei que fosse seu. 


Do livro: Histórias da Tradição Sufi - Editora Dervish 

Sem comentários: