Depois de muito caminhar e correr
pelo campo, um certo veado saiu à procura de duma fonte onde houvesse águas
frescas e cristalinas para matar a sede.
Não demorou muito a encontrar um
regato que, embora pequeno, tinha águas limpas e frescas. Sem demonstrar
pressa, abaixou-se tranquilamente e pôs-se a sorver o líquido procurado.
Após se ter satisfeito, o veado
deteve a sua atenção para qualquer coisa que nunca antes tinha observado. Viu,
espelhado nas águas superficiais do pequeno regato, as suas pernas compridas e
tortas que formavam um triste contraste com os seus formosos chifres dispostos
em galhos.
- É bem verdade o que dizem a meu
respeito - exclamou o veado. Supero a todos os outros da minha espécie, em
graça e nobreza! Que elegância majestosa se pode verificar quando levanto
graciosamente a minha galhada (chifres)!
Entretanto, há uma triste e
incontestável verdade ao lado de tudo isto contrastando com essa exuberância estão
os meus pés tão horrorosos. Enquanto, desgostoso, escarnecia e ironizava a
feiura dos seus pés tão tortos e desengonçados, eis que vê sair da floresta,
vindo na sua direção, um esfomeado leão...
Pés, para que lhes quero? E em dois
saltos firmes e velozes colocou-se fora do alcance do inimigo. Todavia, a
fábula continua a contar que, na sua precipitada fuga, o veado resolveu passar
por um apertado trilho entre as árvores.
Não tinha avançado muito, quando se
deparou com a sua galhada presa num espinhal, cujos ramos delgados se
emaranharam formando um verdadeiro alçapão.
Lutou desesperadamente para se
desprender dali, mas todo o esforço foi em vão e enquanto isto o mesmo leão
alcançou-o, devorando-o sem compaixão...
Assim, os pés que o animal tanto
depreciava poderiam tê-lo salvo, se a galhada de que tanto se orgulhava não o
fizesse encalhar.
(Autor desconhecido)
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