"O
homem é o que ele acredita."
Anton Tchecóv
No
seu maravilhoso livro, Anatomy of an Illness, Norman Cousins conta uma
instrutiva história sobre Pablo Casals, um dos maiores músicos do século vinte.
É uma história de crença e renovação, e que todos nós podemos aprender com ela.
Cousins
descreve o encontro com Casals, um pouco antes do nonagésimo aniversário do grande
violoncelista. Diz ele que era doloroso olhar o velho homem quando começava o
seu dia. A sua fragilidade e artrite eram tão debilitadoras que precisava de
ajuda para se vestir. O Seu enfisema era evidente na difícil respiração,
andando com um arrastar de pés, curvado, cabeça inclinada para a frente. As
suas mãos eram inchadas, os seus dedos apertados. Parecia um homem muito velho,
velho e cansado.
Antes
mesmo de comer, foi até o piano, um dos vários instrumentos em que Casals se
tornara perito. Com grande habilidade, ajustou-se na banqueta. Parecia para ele
um terrível esforço levar os seus dedos inchados e cerrados até o teclado.
E,
então, algo de muito milagroso ocorreu. De repente, Casals transformou-se
completamente ante os olhos de Cousins. Entrou num estado cheio de recursos e,
conforme o fez, a sua fisiologia mudou a tal ponto que começou a mover-se, e a
tocar, produzindo no seu corpo e no piano resultados que só teriam sido
possíveis num pianista saudável, forte e flexível. Como Cousins descreveu, os
seus dedos abriram-se lentamente e acharam as teclas como os brotos de uma
planta em direcção à luz do sol e ai as suas costas endireitaram-se.
Parecia
respirar com mais facilidade". O simples pensamento de tocar piano mudava
todo o seu estado, e assim a eficiência do seu corpo. Casals começou com uma
peça do Cravo Bem Temperado, de Bach, com grande sensibilidade e controle.
Atirou-se, então, ao concerto de Brahms, e os seus dedos pareciam correr sobre
o teclado. "O seu corpo inteiro parecia fundido com a música",
escreveu Cousins.
"Deixava
de estar rijo e encolhido, ficando mais ágil, gracioso e completamente livre
das suas torceduras artríticas." Quando se afastou do piano, parecia uma
pessoa bem diferente da que se sentara para tocar.
Levantou-se
erecto e mais alto e andou sem sinal de arrastar os pés.
Logo
se dirigiu para a mesa do café, comeu com satisfação, e então saiu para dar um
passeio pela praia.
Pensamos
sempre em crenças no sentido de credos ou doutrinas e muitas crenças são isso
mesmo. Contudo, no sentido básico, uma
crença é qualquer princípio orientador, máxima, fé ou paixão que pode
proporcionar significado e direcção na vida. Estímulos ilimitados estão
disponíveis para nós. Crenças são os filtros pré-arranjados e organizados para
as nossas percepções do mundo. São como comandos do cérebro. Quando acreditamos
com convicção que alguma coisa é verdade, é como se mandássemos um comando para
o nosso cérebro, de como representar o que está a ocorrer.
Casals
acreditava na música e na arte. Foi o que deu beleza, ordem e nobreza à sua
vida, e é o que poderia ainda proporcionar-lhe milagres diários. Por acreditar
no poder transcendente da sua arte, ele estava fortalecido de uma forma que
quase desafiava o entendimento. As suas crenças transformavam-no, diariamente,
de um velho homem cansado num génio de vida. No sentido mais profundo, as suas
crenças mantinham-no vivo.
Certa
vez, John Stuart Mill escreveu: "Uma pessoa com uma crença é igual à força
de noventa e nove que só têm interesses".
É por isso que as crenças abrem a porta
para a excelência. A crença envia um comando directo para o seu sistema
nervoso. Quando acredita que alguma coisa é verdade, você entra mesmo no estado
de que aquilo deve ser verdade.
Tratadas
desta maneira, as crenças podem ser as mais poderosas forças para criar o bem
na sua vida.
Por outro lado, as crenças que limitam
as suas acções e pensamentos podem ser tão devastadoras como as crenças cheias
de recursos podem ser fortalecedoras. Através da história, as
religiões têm fortalecido milhões de pessoas dando-lhes força para fazerem
coisas que pensavam que não podiam. As crenças ajudam-nos a liberar os mais
ricos recursos que estão bem dentro de nós, criando-os e dirigindo-os para
apoiarem os nossos resultados desejados.
As crenças
são os compassos e os mapas que nos guiam na direcção das nossas metas e nos
dão a certeza de saber que lá chegaremos. Sem crenças ou a capacidade de entrar
nelas, as pessoas podem ser totalmente enfraquecidas. São como um barco a motor
sem o motor ou leme. Com crenças orientadoras fortes, você tem o poder de tomar
medidas e criar o mundo no qual quer viver. As crenças ajudam-no a ver o que
quer e energizam-no para obtê-lo.
De
facto, não há força directora mais poderosa no comportamento humano do que a
crença. Em essência, a história humana é a história da crença humana.
As
pessoas que mudaram a história - Cristo, Maomé, Copérnico, Colombo, Edison ou
Einstein - foram as que mudaram as nossas crenças.
Para mudar os nossos próprios
comportamentos temos de começar a alterar as nossas próprias crenças. Se
quisermos modelar excelência, precisamos aprender a modelar as crenças daqueles
que alcançaram excelência.
Escolha as
crenças em que quer acreditar e realize de forma mais fácil os seus objectivos.
Bem hajam.
Miguel
Ferreira
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