Esta história pertence ao livro Steps to an
Ecology of Mind, de Gregory Bateson, trata-se da transcrição duma conversa que
este tivera com a filha:
Um dia, a filha perguntou-lhe: pai, porque é
que as coisas ficam desarrumadas com tanta facilidade?
- O que está a querer dizer com
"desarrumadas"? - perguntou ele.
- Bem, sabe como é quando as coisas não são
perfeitas. Olhe para a minha escrivaninha agora. Está cheia de coisas.
Desarrumada. E ontem à noite esforcei-me ao máximo para deixar tudo perfeito, mas
as coisas não permanecem perfeitas. Ficam desarrumadas com a grande facilidade!
Bateson pediu à filha:
- Mostre-me como é quando as coisas estão
perfeitas.
Ela arrumou tudo na devida ordem, e disse:
Aí está, assim é perfeito. Mas não continuará
assim.
E se eu deslocar esta caixa de tintas para aqui,
cerca de um palmo? O que acontece?
- Ora, pai, agora ficou desarrumado. Além do
mais, teria de estar direitinha, e não torta, como a deixou.
- E se eu mudasse este lápis para cá?
- Está desarrumado outra vez.
- E se deixasse este livro aberto?
- Também fica desarrumado!
Bateson declarou então para a sua filha:
- Querida, não é que as coisas fiquem
desarrumadas com grande facilidade. O que acontece apenas que tens mais meios
para desarrumar as coisas, e só tem um meio para deixar tudo perfeito.
A maioria das pessoas cria numerosos meios
para se sentir mal, e apenas uns poucos meios para se sentir realmente bem.
Bem
hajam e boas arrumações.
Miguel Ferreira
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