quarta-feira, fevereiro 23, 2011

A Janela

Certa vez, dois homens que, seriamente doentes, estavam na mesma enfermaria de um grande hospital. O quarto era bastante pequeno, e nele havia uma janela que dava para o mundo. Um dos homens tinha, como parte do seu tratamento, permissão para se sentar na cama durante uma hora, durante as tardes (tinha a que ver com a drenagem de fluido dos seus pulmões).

A sua cama ficava perto da janela. O outro, contudo, tinha de passar o tempo todo deitado de barriga para cima.

Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava perto da janela era colocado na posição sentada, passava o tempo a descrever o que via lá fora. A janela aparentemente dava para um parque onde havia um lago.

Havia patos e cisnes no lago, e as crianças atiravam-lhes pão e colocavam na água barcos de brinquedo. Os jovens namorados caminhavam de mãos dadas entre as árvores, havia flores, arbustos e vários grupos que jogavam à bola. E ao fundo, por trás da fileira de árvores, avistava-se o belo contorno dos prédios da cidade.

O homem deitado ouvia o sentado descrever tudo isso, apreciando todos os minutos. Ouviu sobre como uma criança quase caiu no lago, e sobre como as garotas estavam bonitas nos seus vestidos de verão.

As descrições do seu amigo eventualmente fizeram-no sentir que quase podia ver o que estava a acontecer lá fora...

Então, numa bela tarde, ocorreu-lhe um pensamento: Porque é que o homem que ficava perto da janela deveria ter todo o prazer de ver o que estava a acontecer? Porque é que ele não podia ter essa hipótese?

Sentiu-se envergonhado, mas quanto mais tentava não pensar assim, mais queria uma mudança. Faria qualquer coisa!

Numa noite, enquanto olhava para o tecto, o outro homem subitamente acordou tossindo e sufocando-se, e as suas mãos procuravam o botão que faria chamar a enfermeira. Ele observou-o sem se mexer... mesmo quando o som de respiração parou.

De manha, a enfermeira encontrou o outro homem morto, e silenciosamente levou o seu corpo.

Assim que pareceu apropriado, o homem perguntou se poderia ser colocado na cama perto da janela. Então colocaram-no lá, aconchegaram-no sob os cobertores e fizeram com que se sentisse bastante confortável.

Assim que saíram, apoiou-se sobre um cotovelo, e com dificuldades, sentindo muita dor, olhou para fora da janela. Viu apenas um muro...

(desconhecido)

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