domingo, maio 12, 2013

Ousar para mudar


Um filósofo passeava num bosque com o seu discípulo. O tema da conversa, naquela tarde, era sobre os encontros com que deparamos na nossa vida. Ensinava o filósofo que um encontro é sempre uma surpresa que nos mostra o novo, e o encanto das coisas que não conhecemos; dos caminhos que podemos descobrir. Um encontro é sempre uma oportunidade para aprender, para crescer e para ensinar. Num determinado momento, passavam em frente a um portal de aparência miserável, que contrastava com uma propriedade bem situada num parque de rara beleza. "Olha este lugar, comentou o discípulo: é mesmo como o mestre diz: muita gente está no paraíso, sem se dar conta disso. Num belo sítio como este, vive-se miseravelmente." Mas o mestre explicou: "não podemos julgar à primeira vista: precisamos verificar as causas, pois só entendemos o mundo quando entendemos as causas que o fazem mover". Bateram à porta e foram recebidos pelos moradores do casebre: um casal e três filhos, com as roupas sujas e rotas. "Vocês vivem aqui no meio da floresta, não há nenhum comércio por aqui perto", - disse o mestre ao pai da família. "Como é que conseguem viver?" “Meu amigo, respondeu o homem, - nós temos uma vaquinha, que nos dá uns litros de leite todos os dias. Vendemos uma parte do leite e compramos o que é necessário na cidade vizinha. Com a outra parte fazemos queijo e manteiga para comermos. E assim vamos vivendo e Deus é servido." O filósofo agradeceu a hospitalidade e a informação e os dois prosseguiram a sua viagem. Um pouco mais adiante, passaram ao lado de um poço. Diz o filósofo ao aluno: "Vai procurar a vaca daquele senhor e manda-a para o poço." "Como assim, se ele só tem aquela vaca para a sua sobrevivência?" Mas o filósofo não deu resposta e o aluno lá foi procurar a vaca e mandou-a para o poço. O discípulo nunca mais esqueceu aquela cena. Passados muitos anos, quando já era um empresário de sucesso, o discípulo decidiu voltar ao mesmo lugar, confessar àquela família o que tinha feito, pedir-lhe perdão e ajudá-la financeiramente. Mas qual não foi seu espanto ao ver aquele lugar transformado numa bela quinta, com árvores floridas, carro na garagem e algumas crianças a brincar no jardim. O homem ficou ainda mais desesperado pensando que aquela humilde família tinha sido obrigada a vender a propriedade para sobreviver. Apressou o passo e foi recebido por um caseiro muito simpático. "Para onde foi a família que aqui vivia há uns quinze anos?" "Continua aqui, são eles os donos da quinta", foi a resposta. Surpreendido, quis falar com o proprietário. Este logo o reconheceu e perguntou-lhe como estava o filósofo. Mas o discípulo estava ansioso por saber como é que ele tinha conseguido melhorar a quinta e mudar tudo… "Bem, disse ele - nós tínhamos uma vaca com que nos sustentávamos. Acontece, porém, que ela caiu no poço e morreu. Então para manter a família, tive que plantar uma horta com legumes. As plantas levavam tempo para crescer e vi-me obrigado a cortar madeira para vender. Ao fazê-lo tive que replantar as plantas e precisei comprar sementes. Ao comprá-las, lembrei-me da roupa dos meus filhos e pensei que pudesse cultivar algodão. Passei um ano difícil; mas, quando a ceifa chegou, eu já estava a vender legumes, algodão e ervas aromáticas. Nunca me tinha dado conta do potencial que tinha aqui. Foi uma sorte danada aquela vaca ter morrido!
Bem hajam.

Miguel Ferreira

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