quarta-feira, dezembro 31, 2014

O Observador


Um certo dia um rei chamou ao seu palácio o mestre zen Muhak - que viveu de 1317 a 1405 - e lhe disse que, para afastar o cansaço e a tensão do trabalho administrativo, queria ter uma conversa completamente informal com ele. Em seguida, o rei comentou que Muhak parecia um grande porco faminto procurando comida. 

- E você, excelência parece o Buda Sakiamuni meditando, sobre um pico elevado dos Himalaias. 
O rei ficou surpreso com a resposta de Muhak. 
- Comparei você a um porco, e você compara-me ao Buda?
- É que um porco só pode ver porco, excelência, e um Buda só pode ver Buda.

sábado, dezembro 27, 2014

Inferioridade

Um samurai, conhecido por todos pela sua nobreza e honestidade, foi visitar um monge Zen em busca de conselhos. Entretanto, assim que entrou no templo onde o mestre rezava, sentiu-se inferior, e concluiu que, apesar de toda a sua vida ter lutado por justiça e paz, não tinha sequer chegado perto ao estado de graça do homem que tinha à sua frente.
- Por que razão me estou a sentir tão inferior a si? Já enfrentei a morte muitas vezes, defendi os mais fracos, sei que não tenho nada do que me envergonhar.
Entretanto, ao vê-lo meditar, senti que a minha vida não tem a menor importância.
- Espere. Assim que eu tiver atendido todos os que me procurarem hoje, eu dou-te a resposta.
Durante o resto do dia o samurai ficou sentado no jardim do templo, a olhar para as pessoas que entraram e saíram à procura de conselhos. Viu como o monge atendia a todos com a mesma paciência e com o mesmo sorriso luminoso no seu rosto. Mas o seu estado de ânimo ficava cada vez pior, pois tinha nascido para agir, não para esperar. De noite, quando todos já tinham partido, ele insistiu:
- Agora podes-me ensinar?
O mestre pediu que entrasse, e conduziu-o até o seu quarto. A lua cheia brilhava no céu, e todo o ambiente inspirava uma profunda tranquilidade.
- Estás a ver esta lua, como ela é linda? Ela vai cruzar todo o firmamento, e amanhã o sol tornará de novo a brilhar. Só que a luz do sol é muito mais forte, e consegue mostrar os detalhes da paisagem que temos à nossa frente: árvores, montanhas, nuvens. Tenho contemplado os dois durante anos, e nunca escutei a lua a dizer: por que não tenho o mesmo brilho do sol? Será que sou inferior a ele?
- Claro que não - respondeu o samurai. - Lua e sol são coisas diferentes, e cada um tem sua própria beleza. Não podemos comparar os dois.
- Então, tu sabes a resposta. Somos duas pessoas diferentes, cada qual a lutar à sua maneira por aquilo que acredita, e a fazer o possível para tornar este mundo melhor; o resto são apenas aparências. 

Bem hajem e Bom Natal,

Atravessando o Rio

Dois monges viajavam juntos num caminho lamacento. Chovia torrencialmente o que dificultava a caminhada.  A certa altura tinham que atravessar um rio, cuja água lhes dava pela cintura. Na margem estava uma moça que parecia não saber o que fazer:
- Quero atravessar para o outro lado, mas tenho medo.
Então o monge mais velho carregou a moça às suas cavalitas para a outra margem. Horas depois, o monge mais novo não se conteve e perguntou:
- Nós, monges, não nos devemos aproximar das mulheres, especialmente se forem jovens e atraentes. É perigoso. Por que fez aquilo?
- Eu deixei a moça lá atrás. Você ainda a está a carregar?

Pois é assim com muitas pessoas que conheço, e que passam a vida a julgar e a ressentir a atitude dos outros, gastando tempo e energia em algo que não irá contribuir em nada para a modificação do que passou e além disso, muitas vezes presa a esse mesmo passado que as impede de prosperar, aproveitar e disfrutar da vida.

Procurem pois aprender com os erros e viver cada vez melhor o presente.

Votos de boas festas. Bem hajam

quarta-feira, dezembro 17, 2014

A chavená de chá

Um professor de filosofia foi ter com um mestre zen, Nan-In, e fez-lhe perguntas sobre Deus, o nirvana, meditação e muitas outras coisas. O Mestre ouviu-o em silêncio e depois disse.
- Pareces cansado. Escalaste esta alta montanha, vieste de um lugar longínquo.
Deixa-me primeiro servir-te uma chávena de chá.
O Mestre fez o chá. Fervilhando de perguntas, o professor esperou. Quando o Mestre serviu o chá encheu a chávena do seu visitante e continuou a enche-la. A chávena transbordou e o chá começou a cair do pires até que o seu visitante gritou:
- Para. Não vês que o pires está cheio?
- É exatamente assim que te encontras. A tua mente está tão cheia de perguntas que mesmo que eu responda não tens nenhum espaço para a resposta. Sai, esvazia a chávena e depois volta.
Encontramos tantas vezes pessoas na vida que estão tão cheias delas próprias e de convicções fixas acerca de si e dos assuntos da vida e que dificilmente conseguem encontrar espaço para aprender novas coisas ou ter novas perspetivas.
Mesmo que queiramos mostrar outros pontos de vista, quanto mais procuramos convence-las mais elas se justificam com as suas ideias que vão defendendo certas formas de ser e estar que de alguma forma as compensam ou equilibram.
De facto, necessitamos de acreditar sempre em algo. Uns acreditam num Deus todo-poderoso, outros em diversos Deuses, outros no Deus dinheiro, outros apenas na ciência e ainda outros que afirmam que não acreditam em nada, nem em ninguém.
A falta de abertura é por norma sinónimo de ignorância e esta é a porta para o fracasso em qualquer área da nossa vida, e é claro que não sendo propositado, essa rigidez representa para muitos a convicções defensivas, para que não se volte a sofrer, como passou no passado. O facto de ter caído uma vez, não significa que tenha que estar sempre a cair. Por isso, aprenda com a própria vida, pois ela mesmo está sempre a ensinarmos, ainda que muitas vezes a lição não é clara e custe a aceitar. No entanto é fundamental essa aprendizagem, pois de somos nós os principais responsáveis pela forma como interpretamos e sentimos a vida, e nem sempre ela acontece da forma como gostaríamos que acontecesse e por mais “voltas que o rio deia ele sempre vai desaguar ao mar”.

Tenha pois um espirito aberto á vida e pratique a gratidão. Só assim poderá estar verdadeiramente apto a tirar total partido da vida, pois o melhor está sempre para vir.

domingo, dezembro 07, 2014

Apego


Um dia morreu o guardião de um mosteiro Zen. Para descobrir quem seria a nova sentinela, o mestre convocou os discípulos e disse:
- O primeiro que conseguir resolver o problema que vou apresentar assumirá o posto.
Então numa mesa que estava no centro a sala colocou um vaso de porcelana muito raro, com uma rosa amarela de extraordinária beleza. E disse apenas: 
- Aqui está o problema!
Todos ficaram a olhar a cena: o vaso belíssimo, de valor inestimável, com a maravilhosa flor ao centro! O que representaria? O que fazer? Qual o enigma? De repente um dos discípulos saca da espada, olha para o mestre, dirigi-se para o centro da sala e... Zazzz! Com um só golpe destruiu tudo. 
- Você é o novo guardião. Não importa que o problema seja algo lindíssimo. Se for um problema, precisa ser eliminado.

O inferno e o céu

Atacado na própria honra, o samurai teve um acesso de fúria e, sacando da bainha a sua espada, berrou:
- Eu poderia matar-te por tua impertinência!
- Isso é o Inferno – respondeu o Mestre
Espantado por ver a verdade no que o mestre dizia, o samurai embainhou a espada e sorriu, fazendo-lhe uma reverência
- E isso é o Céu – disse o Mestre.

quinta-feira, dezembro 04, 2014

Valorize o que é seu

O dono de um pequeno comércio, amigo de um poeta, abordou-o na rua e perguntou-lhe “amigo, preciso vender o meu sítio, aquele que conheces tão bem. Será que poderias redigir um anúncio para o jornal?”
O seu amigo poeta então escreveu:

“Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa banhada pelo sol nascente oferece sombra tranquila das tardes na varanda.”

Meses depois o poeta voltou a encontrar o homem e perguntou se já tinha vendido o sítio.
Ao que respondeu: nem pensei mais nisso. Quando li o anúncio percebi a maravilha que tinha.
Muitas vezes, desprezamos as coisas boas que possuímos e vamos atrás da miragem de falsos tesouros. Muitas vezes vimos pessoas a abrir mão da esposa/esposo, dos filhos, da família, da comunidade, dos amigos, da cidade onde residem, da profissão, do conhecimento acumulado durante os anos de vida, da boa saúde, das belezas da vida. Precipitadamente, mandam pela janela aquilo que a vida lhes deu com tanta graça e que foram cultivando com garra.
Olhe à sua volta, valorize o que tem: o seu lar, as pessoas amadas, os amigos com os quais pode de facto contar, o conhecimento que adquiriu, a sua boa saúde e as belezas da vida, que são verdadeiramente o seu mais precioso tesouro.
Não adianta fazer um carinho na esposa, depois dela estar dentro duma urna funerária. Não adianta querer reaver trabalhos que negligenciamos. O melhor a fazer é valorizar isso agora. Peça a alguém “superior”, mesmo que não acredite para que os problemas do dia-a-dia não lhe gerem sentimentos de impotência, tristeza, ansiedade.
Ao desenvolver uma ligação mais espiritual à vida, seguramente que a vitória com qualquer tipo de luta surgirá, pois por algo tivemos direito à vida e a natureza está cheia de abundância. Em vez de reclamar da sua família, faça o que está ao seu alcance para que ela possa melhorar. Em vez de reclamar do ambiente de trabalho, observe o que pode fazer para melhora-lo. Em vez de se isolar dos amigos por causa das suas fraquezas, procure investir na intimidade emocional, na cooperação, com o objetivo de poder ter liberdade para fazer críticas construtivas.
É necessário uma visão superior e para que a auto estima seja fortalecida pela superação dos problemas quotidianos e pelo aumento de atividades significativas para si próprio, as quais validam o que se é e o que se faz.

Bem hajam