quinta-feira, junho 04, 2009

Auto-Bullying


No passado mês de Março, tive o privilégio de fazer parte duma mesa animada de especialistas, cujo tema era Bullying. Este fenómeno, que não é mais do que um “vilão” da sociedade, onde cada um procura afirmar-se de qualquer forma, tendo sempre “espelhos” que nos reflectem exactamente isso – o nosso valor e conceito.
O que acontece e que todos nós de uma forma ou de outra, encararmos sempre o papel de vítima ou agressor, sendo estes dois papeis um conjunto de necessidades herdadas, desde mais tenra idade.
Portanto, existe um medo constante de não estarmos suficientemente preparados, equipados, ornamentados e até mesmo perfeitos em relação ao padrão social definido, ou seja, é pretensão nossa estar pelo menos na “moda”, e deixar aquilo que é “careta”, o que muitas vezes é visto como antiquado e até mau.
Os bons comportamentos, hábitos e até costumes morais são vistos como anormais. Os maus comportamento, a rebeldia, atitudes desviantes e provocatórias são vistas como normais. Acho que estamos a caminhar no sentido oposto; é como se vestisse uma camisola ao contrário…
Quando o tema é bullying (palavra inglesa, que significa, usar o poder ou força para intimidar, implicar
excluir, humilhar, não dar atenção, desprezar, perseguir…), lembro-me sempre da história do patinho feio. O que terá de facto acontecido para que ele se senti-se feio? Talvez a diferença que apresentá-se, e que lhe era espelhado pelos pseudo-irmãos, que para se sentirem no mínimo iguais, subestimaram-no. Ou seja, não será o agressor que para não se sentir vítima, acaba por atacar um ponto de referência especial para que se sinta equilibrado?
Quero com isto dizer, que dentro de nós, de uma forma ou de outra, há uma “parte” que muitas vezes rejeitamos, e ao faze-lo estamos nós próprios a criar a auto-rejeição, ao que chamo de auto-bullying.
Já agora, qual a necessidade da personagem da “bruxa má” da história da branca de neve perguntar ao espelho: “espelho meu… espelho meu… haverá alguém mais bonito do que eu…!”
De onde vêm esta dúvida? Como ao longo do nosso crescimento nos fomos sempre auto-observando e comparando com os outros, por vezes surgem alguns pontos de diferença. A maneira como os encaramos vai definir a nossa auto-imagem e consequente auto-conceito que irá influenciar a oscilação da auto-estima.
Ora quanto mais fragilidade de auto-estima, maior será a probabilidade de sermos agredidos pelo meio, inclusivamente de forma indirecta, como acontece através do visionamento da televisão. É como se estivéssemos sempre em comparação, “eu” e os “outros”, “aqui sou igual”, “aqui sou diferente”, “aqui sou inferior”, “aqui sou superior”.
Assim, nesta necessidade de afirmação, muitas vezes herdada dos pais, aparece o fenómeno do bullying, gerado é claro, pelo auto-bullying, ao diminuir a percepção que temos de nós próprios.
Quase todos os pacientes com que tenho colaborado, foram alvo deste fenómeno, daí chegarem á vida adulta e gerarem desordens emocionais, tais como a depressão, ansiedade, fobias, e outras, fruto da baixa auto-estima de infância e adolescência.
Como tudo isto resulta de um padrão repetitivo, que vêm desde os tempos da escola, onde existiam outros iguais a nós, é muito natural que muitas vezes ainda suceda, estarmos no lugar da vítima, logo nos sentimos inferiorizados, o que nos leva a reagir por vezes de forma exagerada e pouco compreensiva para os outros, que ao não nos entenderem também reagem de forma exagerada, criando aqui uma “bola de neve” de desentendimentos e mal-estar.
É pois urgente resgatarmos a nossa criança interior, e dar-lhe finalmente a noção de que é um ser muito especial e que a vida está cheia de inúmeras possibilidades.
Nestas alturas é muito normal preocupar-nos com os nossos filhos. A minha sugestão é que nos ocupemos connosco a ajudar-nos a nós próprios, no caminho do auto-conhecimento, auto-controlo e empatia, gerando assim relacionamentos interpessoais satisfatórios, construindo assim uma rede social atractiva, que possa fascinar os nossos jovens a aderir a uma forma de estar saudável e em harmonia com tudo aquilo que representa a Natureza e a beleza humana.

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