quarta-feira, dezembro 15, 2010

Stresse – o grande vilão.

O stresse, que costuma ser visto como o grande vilão das nossas vidas, nada mais é do que a pressão imposta a cada um de nós no dia-a-dia. Em si, o stresse é altamente positivo, pois é a mola que nos impele a fazer o que é necessário e nos coloca no melhor do nosso desempenho nos momentos em que somos exigidos.
Esse stresse é natural ao organismo, sendo ele que nos faz agir perante determinada situação, produzindo estimulantes na nossa corrente sanguínea. É graças ao stresse que a espécie humana se perpetuou ao longo da história desde os primórdios, quando os nossos ancestrais tinham de correr ou defenderem-se dos predadores que apareciam de repente.
Esse processo de fabricação de hormonas estimulantes, que nos deixa de repente eufóricos ou capazes de não sentir dores numa situação de risco, é altamente benéfico, sendo muitas vezes um recurso extremo do organismo para nos por a salvo.
É claro, o grande problema é quando o stresse se torna crónico, e nessa altura, torna-se o nosso pior inimigo, um “vilão” capaz de minar a nossa saúde.
A vida do homem moderno parece um “videoclipe”, cheio de luzes, poluição e perigo por todos os lados. É evidente que, neste fluxo incessante de acontecimentos, não há tempo para que o homem se possa adaptar.
A sociedade perdeu o sentido do ser, vivemos em pânico, no meio do caos, querendo ganhar cada vez mais, trabalhar cada vez mais, produzir cada vez mais. O homem pressionado por tantas solicitações esquece-se dele próprio e projecta-se para as coisas à sua volta. É só competir, competir, competir. Estamos a viver um momento em que o “deus mercado” transforma indivíduos em consumidores.
Tudo está voltado para o consumo e o ser humano acaba por se consumir nesta história. Resultado: o homem vive stressado, e uma pessoa stressada tem as portas abertas para qualquer tipo de doença. Assim, se pudermos fugir desse stresse, podemos curar-nos de quase tudo. Ninguém se pode isolar do mundo moderno, mas podemos adoptar atitudes e comportamentos que nos levem de volta ao aconchego e ao silêncio restaurador de cada final de dia.
Os nossos ancestrais não tinham luz eléctrica. A luz constante é um factor de estímulo. Experimente chegar a casa, apagar as luzes, e acender algumas velas: com isso, já diminuiu um pouco do seu grau de stresse. Todos nós temos necessidade do escuro total.
O homem antigo dormia e acordava com o dia. Evite ligar a televisão, um factor altamente stressante, colocando antes uma música calma. Obviamente que é bom procurar o estímulo, mas também o repouso, realizar trabalho, mas também o descanso. Trabalhar, não faz mal, trabalhar muito não faz mal, trabalhar demais também não faz mal. O que não pode é trabalhar indefinidamente, de forma sempre contínua. Lembre-se do exemplo do elástico. Pode esticá-lo, mas lembre-se de o afrouxar para que o possa esticar novamente, pois se o esticar indefinidamente, depois de algum tempo ele pode-se partir e aí não tem remédio! Acho que é assim que deveria ser o dia-a-dia de qualquer pessoa. Muito trabalho não faz mal, desde que possa ser interrompido por momentos de descanso, por períodos de lazer - para que a sua saúde não perca o poder de permitir essa flexibilidade, para que, quando for envolvido no trabalho, a produção possa ser aumentada e assim não correr riscos. Veja o exemplo do coração: trabalha e relaxa durante o tempo todo. O coração é uma filosofia de vida que poucos percebem, ele pode contrair 3 milhões e 500 mil vezes, mas relaxará outros 3 milhões e 500 mil vezes.
Até há bem pouco tempo, as empresas ainda se comunicavam com as suas filiais solicitando algum tipo de informação por telegrama. Tinham que esperar que aquela máquina lenta e barulhenta enviasse a mensagem e depois recebesse a resposta. Era um momento de relax natural porque demorava. Nessas alturas, a pessoa tinha tempo de se esticar, espreguiçar-se e até bocejar. Havia tempo para ir ter com os colegas e até conversar um pouco de banalidades. Podia-se olhar a paisagem e sentir o local em que se estava. Podia sentir a sua vida. É claro que esta pessoa tinha maior poder de concentração, produzindo mais e mantendo um melhor nível de saúde, pois fazia esse importante mecanismo do elástico reduzir um pouco para depois poder esticá-lo novamente. Depois veio o fax, que veio tirar um pouco do sossego das pessoas, pois, ao mesmo tempo que se colocava um papel no fax transmissor, o fax receptor já estava a receber. Era impressionante, como é que um monte de letras que saíam através do fio do telefone pudesse chegar ao outro lado do mundo instantaneamente. De facto, podíamos pensar, isso era muito louco, pois as letrinhas atravessavam oceanos imensos rapidamente e chegavam sem nenhum embaralho. Em termos de tecnologia, isso era o máximo, porém, já era o aumento das solicitações de atenção da pessoa no trabalho, porque, se se passa um fax, de seguida vem outro fax como resposta. Estas coisas instalam-se com tanta facilidade na nossa vida que é difícil imaginar a sua inexistência há tão pouco tempo. Desta maneira o stresse vai-se instalando e a humanidade nem se dá conta. Hoje, de olhos esbugalhados em frente a um microcomputador, o elástico é esticado a toda a hora. Mal se envia esse tal de “e-mail” e já se tem a resposta. Aqueles momentos de relaxamento, em que se tinha a oportunidade de soltar o elástico, já não existem.
Precisamos convencer-nos e aos nossos chefes, definitivamente, de que o ser humano não é uma máquina e, embora os estímulos não cessem, o homem pode reaprender que parar é essencial, resgatando intimamente o seu ancestral que acendia a fogueira no fim do dia para repensar a vida, integrar o pensado, compreender o aprendido e, enfim, descansar. Dormir profundamente. Deixar brotar o novo dia, para, aí sim, se entregar de novo à nova batalha...

Bem hajam e boas festas.

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