segunda-feira, abril 11, 2011

Liberdade


Até que ponto nos sentimos livres? Até que ponto somos verdadeiramente livres?
 O valor “liberdade”, como qualquer valor aliás, mesmo que aparentemente pareça algo muito bonito, na maioria das vezes representa a teia que inconscientemente nos aprisiona. A tentativa de realização do valor de forma obsessiva, leva a um desgaste enorme de energias. Nos últimos artigos tenho dado atenção especial a este fenómeno – na grande maioria das vezes julgamos que nos estamos dirigindo a algo positivo, ao alargamento das possibilidades inatas, sem nos darmos conta que agimos na forma de piloto automático, inconscientemente, como resultado da nossa história pessoal, sobretudo como resultado de frustrações e traumas, repetindo os dramas do nosso passado. Queremos que haja respeito no mundo, ou queremos ser respeitados? Queremos a lealdade social ou que ninguém nos traia? Queremos realizar o amor ou que nos dêem atenção? Queremos s liberdade como princípio universal, ou não queremos mais a prisão que experimentámos na infância? Isto não é uma subtilidade qualquer, nem um jogo linguístico. Isto faz uma grande diferença na maneira como nos movemos no mundo.
A liberdade é coisa que não existe em parte nenhuma. Nem na política, nem na economia, nem nas nossas vidas.
As determinantes sociológicas, culturais, histórico-pessoais, impelem-nos em determinadas direcções, às vezes aparentemente convencidos que tomámos determinadas decisões conscientemente, quando afinal de contas, o processo verdadeiro parece ser outro – tomamos consciência de decisões já tomadas inconscientemente e vamos pela vida convencidos que tomámos decisões a nível consciente.
Liberdade implicaria uma tomada de decisão consciente. Pelo menos, é esta definição que, por agora, estou a empregar aqui.
Onde estão então as nossas decisões conscientes se:
- o processo a que acedemos à informação é essencialmente composto por omissões de informação, generalizações a partir de acontecimentos únicos, distorções criativas de estímulos externos e memórias, e por isso, qualquer decisão é o fruto de informações limitadas?
- se as representações que fazemos do mundo e de nós mesmos estão directamente correlacionadas com o nosso estado de espírito do momento e com o contexto e nem o contexto, nem o próprio estado de espírito estão, na maioria das vezes, sob o nosso controlo?
- se as decisões estão condicionadas pela nossa postura física, pela alimentação, pelo grau energético, pelas características físicas e subjectivas do ambiente?
- se dependem dos significados linguísticos que atribuímos às coisas?
- se as nossas decisões derivam de forma directa das nossas crenças e valores e são precisamente estas crenças - e crenças e valores atrás de crenças de que, em geral, não temos a mínima consciência - que seleccionam e disformam a informação?
- se estas decisões estão directamente relacionadas com as nossas tendências ou traços psicológicas naturais, das quais muito superficialmente temos consciência?
- se são o resultado directo e projecção de memórias com conteúdos emocionais, em que os conteúdos emocionais negativos possuem a maior importância, e quanto mais fortes, menos consciência temos deles?
Onde está então a nossa liberdade?
A questão essencial em PNL é, parece-me, a questão da liberdade. Até que ponto fazemos escolhas na vida? Em geral, não fazemos. As decisões são tomadas como resultado da nossa história pessoal, antes de termos consciência plena delas. Isso faz de nós uma espécie de robots. Não com estas palavras, mas parece-me que é, no fim de contas, a mensagem essencial da Programação NeuroLinguística. O fim de qualquer programa deveria ser, no meu entender, facilitar o caminho para a aquisição da liberdade.
Isso faz-se através de uma tomada crescente de consciência do funcionamento da nossa experiência subjectiva – dos factores determinantes e dos processos que levam à produção de estados emocionais e sensações e ao comportamento.
O cerne, em PNL, gira à volta da compreensão das nossas representações mentais, as imagens que criamos do mundo e dos outros, e das características sensoriais que atribuímos a essas imagens. No momento em que conseguirmos manipular estas características, começamos a ter domínio sobre os nossos estados emocionais e daí a um certo controlo das escolhas de comportamento. Sem isso reagimos de forma automática ao mundo e às construções mentais que ininterruptamente e de forma associativa invadem, por assim dizer, a nossa mente. É um fluxo contínuo de imagens e ideias, que se processam totalmente fora do nosso controlo no teatro da nossa mente, que produz estados que vão determinar os comportamentos.
Essencialmente, o que se aprende em PNL, é a lidar com as características das imagens e dos sons no teatro da mente e das sensações no corpo. No que se refere a imagens, trabalha-se, por exemplo, com o tamanho, forma, localização, cor, distância, movimento, associação e dissociação; alguns elementos básicos manipuláveis nos sons são o volume, timbre, tonalidade, ritmo, direcção; nas sensações referimo-nos, entre outros elementos básicos, à localização no corpo, à temperatura, pressão, peso, intensidade, movimento.
São estas características sensoriais que determinam de forma automática os nossos estados, sem nos darmos conta. A liberdade começa, se calhar, no momento em que não somos simplesmente escravos dos estados sem darmos por isso, mas começamos a ter consciência do processo e a lidar com eles, o que equivale a influenciar deliberadamente as representações mentais, lidando com as características sensoriais já referidas. Neste acaso, refiro-me a transformação das sub-modalidades sensoriais das nossas representações mentais. 
Mas isto é unicamente o topo do iceberg que, ao contrário do iceberg, até este topo, não é visível. É um processo subjectivo, vago, e que, por tão normal, não damos por isso. Porquê falar aqui do topo do iceberg? Porque estas representações sensoriais internas com as respectivas sub-modalidades são, em si mesmas, determinadas pelas memórias, crenças e convicções, decisões tomadas no passado, traços psicológicos, emoções, padrões de linguagem empregues, etc., e que formam toda a massa invisível do iceberg debaixo da superfície.
Ora sem a tomada de consciência e, muitas vezes, a transformação destes factores, não é possível lidar directamente, de forma funcional e positiva, com as representações mentais, transformando a bel-prazer as suas características sensoriais. A posse de um controlo maior sobre as nossas vidas e o caminho da liberdade é, no meu entender, um processo de tomada de consciência e possível transformação que passa, não só pelas estratégias mentais mais superficiais (sequências de imagens, sons, sensações, palavras, com as respectivas características sensoriais), mas sobretudo pelos padrões linguísticos, sistema de crenças, valores, traços que formam o nosso perfil psicológico, neutralização de emoções (sobretudo as negativas) nas memórias, auto-imagem e sensação de nós, e missão na vida.
Nestes dois últimos parágrafos resumi todo o projecto da Programação NeuroLinguística. A PNL é uma metodologia que nos ajuda a compreender a teia em que nos encontramos emaranhados. Tornamo-nos conscientes dos diversos elementos dessa teia e do seu funcionamento e aprendemos a lidar com eles de uma forma mais harmoniosa, libertando-nos dos elementos não funcionais, num processo contínuo na direcção da liberdade.

pelo meu grande amigo: José Figueira

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