terça-feira, fevereiro 22, 2011

O Menino e a Flor

O estacionamento estava deserto quando me sentei para ler por baixo dos longos ramos dum velho carvalho, desiludido da vida, com boas razões para chorar, pois o mundo estava a tentar-me afundar.
E como se eu não tivesse razão suficiente para arruinar o dia, um garoto ofegante chegou, cansado de brincar. Parou à minha frente, cabeça pendente, e disse cheio de alegria:
- "Veja o que encontrei!"
Na sua mão uma flor - que visão lamentável - pétalas caídas, pouca água ou luz. Querendo ver-me livre do garoto com sua flor, fingi pálido sorriso e virei-me. Mas ao contrário de recuar ele sentou-se ao meu lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa:
- "O cheiro é óptimo, e é bonita também... Por isso a peguei; hei-la, é sua."
A flôr à minha frente estava morta ou a morrer, nada de cores vibrantes como laranja, amarelo ou vermelho, mas eu sabia que tinha que pegá-la, ou ele jamais sairia de lá. Então estendi-me para pegá-la e respondi:
- "Era o que eu precisava."
Mas, ao invés de colocá-la na minha mão, ele segurou-a no ar sem qualquer razão. Nessa hora notei, pela primeira vez, que o garoto era cego, que não podia ver o que tinha nas mãos. Ouvi a minha voz a sumir, lágrimas despontaram ao sol enquanto lhe agradecia por escolher a melhor flor daquele jardim.
- "De nada", sorriu ele, e então voltou a brincar sem perceber o impacto que teve no meu dia.
Sentei-me e pus-me a pensar como conseguiu ele enxergar um homem auto-piedoso sob um velho carvalho. Como sabia ele do meu sofrimento auto-indulgente? Talvez no seu coração tenha sido abençoado com a verdadeira visão.
Através dos olhos duma criança cega, finalmente entendi que o problema não era o mundo, e sim EU. E por todos os momentos em que eu mesmo fui cego, agradecido a Deus por ver a beleza da vida, e apreciei cada segundo que é só meu. Então levei aquela feia flôr ao meu nariz e senti a fragrância de uma bela rosa. Sorri enquanto via aquele garoto, com outra flor em suas mãos, prestes a mudar a vida de um insuspeito senhor de idade.

(autor desconhecido)

Sem comentários: