BASTA A RESPIRAÇÃO
 
Por Eckhart Tolle
Podemos descobrir o espaço interior criando  lacunas no fluxo de pensamentos.
Sem elas, o pensamento torna-se repetitivo,  desprovido de inspiração, sem nenhuma centelha criativa - e é assim que ele é  para a maioria das pessoas. Não nos precisamos preocupar com a duração dessas  lacunas. Alguns segundos bastam. Aos poucos, elas irão aumentar por si mesmas,  sem nenhum esforço da nossa parte. Mais importante do que fazer com que sejam  longas é cria-las com frequencia para que nossas actividades diárias e nosso  fluxo de pensamento sejam entremeados por espaços.
Numa certa ocasião alguém me mostrou a programação  anual de uma grande organização espiritual. Quando a examinei, fiquei  impressionado pela rica seleção de seminários e palestras interessantes. A  pessoa perguntou-me se eu poderia recomendar uma ou duas atividades.
"Não sei, não. Todas me parecem muito  interessantes. Mas eu conheço esta: tome consciencia da sua respiração sempre  que puder, toda vez que se lembrar. Faça isso durante um ano e terá uma  experiência transformadora bem mais forte do que a participação em qualquer uma  dessas atividades. E é de graça." 
Tomar consciência da respiração faz com que a  atenção se afaste do pensamento e produz espaço. É uma maneira de gerar  consciência. Embora a plenitude da consciência já esteja presente como o  não-manifestado, estamos aqui para levar a consciência a essa  dimensão.
Tome  consciência da sua respiração. Observe a sensação do ato de respirar. Sinta o  movimento de entrada e saída do ar ocorrendo no seu corpo. Veja como o peito e o  abdomen se expandem e se contraem ligeiramente quando inspira e expira.  Basta uma respiração consciente para produir espaço onde antes havia a sucessão  initerrupta de pensamentos.
Uma  respiração consciente (duas ou três seria ainda melhor) feita muitas vezes ao  dia é uma maneira excelente de criar espaços na sua vida. 
Mesmo que medite  sobre a sua respiração por duas horas ou mais, o que é uma prática adotada por  algumas pessoas, uma respiração basta para deixa-lo consciente. O resto são  lembranças ou expectativas, isto é, pensamentos.
Na verdade, respirar não é algo que façamos,  mas algo que testemunhamos.
A  respiração acontece por si mesma, produzida pela inteligência inerente ao  corpo. Portanto, basta observá-la. Essa atividade não envolve nem tensão nem  esforço. Além disso, note a breve suspensão do fôlego - sobretudo no ponto de  parada no fim da expiração - antes de começar a inspirar de novo. Muitas pessoas  tem a respiração curta, o que não é natural. Quanto mais tomamos consciência da  respiração, mais sua profundidade se estabelece sozinha.
Como a respiração não tem forma própria, ela  tem sido equiparada ao espírito - a Vida sem uma forma específica - desde tempos  ancestrais. 
"O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e  inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida; e o homem tornou-se um ser vivente."  
A palavra alemã para respiração - atmen - tem origem no termo sânscrito Atman,  que significa o espírito divino que nos habita, ou o Deus interior.
O fato da respiração não ter forma é uma  das razões pelas quais a consciência da respiração é uma maneira eficaz de criar  espaços na nossa vida, de produzir consciência. Ela é um excelente objeto de  meditação justamente porque não é um objeto, não tem contorno nem forma. O outro  motivo é que a respiração é um dos mais sutis e aparentemente insignificantes  fenômenos, a "menor coisa", que, segundo Nietzsche, constitui a "melhor  felicidade".
Cabe  a si decidir se vai ou não praticar a consciência da respiração como  verdadeira meditação formal. No entanto, a meditação formal não substitui o  empenho em criar a consciência do espaço na sua vida cotidiana.
Ao tomarmos conciência da respiração, concentramo-nos no momento presente - o segredo de toda a  transformação interior, espiritual. 
Sempre que nos tornamos conscientes da  respiração, estamos absolutamente no presente. Percebemos também que não  conseguimos pensar e nos manter conscientes da respiração ao mesmo tempo.
A respiração consciente suspende a atividade  mental. No entanto, longe de estarmos em transe ou semidespertos, permanecemos  acordados e alertas. Não ficamos abaixo do nível do pensamento, mas sim acima  dele. E, se observarmos com mais atenção, veremos que essas duas coisas - o nosso  pleno estado de presença e a interrupção do pensamento sem a perda da  consciência - são, na verdade a mesma coisa: o surgimento da consciência do  espaço.
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pg. 211 do livro "O Despertar de uma  Nova Consciência" de Eckhart Tolle - Ed. Sextante
 
 
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